Esse
mês coloquei um ponto final em mais uma bestagem de investimento que não valeu
a pena: previdência privada.
O
tempo passou depressa e o prejuízo também. Olhando uns papéis antigos, vi que
tudo começou em novembro de 2002, há 12 anos atrás. E o que me veio a mente foi
o titulo desta postagem, inspirado no filme ganhador do Oscar que ainda não vi,
mas cujo roteiro pelo visto é bem interessante...
Naquela
época previdência privada era o investimento do momento. Sim, porque poucos
pensavam realmente em aposentadoria, mas sim nos ganhos interessantes acima de
outros investimentos e sem tributação.
Comecei
tirando dinheiro da poupança e colocando R$ 3.000,00 como aporte único num
plano de previdência 100% renda fixa – PGBL. Logo de cara foi cobrada uma taxa
de carregamento de uns 3%, mas eu nem liguei, o ganho futuro compensaria. Não
fiz contribuições mensais.
Uns
3 meses depois comecei a comparar esse plano com outros que tinham percentual
de renda variável: 15% e 30%. Se não me engano, 2003 foi aquele ano maluco em
que a bolsa subiu uns 100%, e é claro que isso bombou a rentabilidade desses
fundos de previdência. Fiz mais um, com 15% de R.V. aplicando uns R$ 4.500,00.
Passados mais 8 meses, fiz um terceiro, com 30% de R.V., mais R$ 5.350,00...
como vocês devem imaginar, naquela época tudo isso era um bom
dinheirinho...(hoje um pouco menos, mas não é de se jogar fora...). E não se
esqueça da “taxa de carregamento” que carregou mais 3% de cada aporte.
Pelo
visto muita gente andou fazendo a mesma coisa para resgatar os valores no curto
prazo o que abriu os olhos gordos do governo. Em 2004 ou 2005, já não lembro
bem, foram anunciadas novas medidas. Todo resgate em previdência privada passaria
a ser tributado com Imposto de Renda. O cliente deveria fazer a opção –
definitiva – pelas tabelas Progressiva ou Regressiva.
Na
tabela progressiva, o I.R é de 15% do montante resgatado, mas com a
possibilidade de receber de volta esse valor na declaração de imposto de renda no
ano seguinte. Na tabela regressiva, mais indicada para o longo prazo, a
tributação é apenas sobre o rendimento dos valores aplicados, sendo o
percentual alto nos primeiros anos e menor a medida que o tempo passa; e essa
tributação é definitiva, ou seja, não dá pra ter de volta na declaração
de I.R.
Tabela Regressiva
|
|
Prazo de
acumulação dos Recursos
|
Alíquota
definitiva na fonte
|
Até 2 anos
|
35%
|
Superior a 2 e inferior ou igual a 4 anos
|
30%
|
Superior a 4 e inferior ou igual a 6 anos
|
25%
|
Superior a 6 e inferior ou igual a 8 anos
|
20%
|
Superior a 8 e inferior ou igual a 10 anos
|
15%
|
Superior a 10 anos
|
10%
|
Um
balde de água fria.
Na
época cometi o erro de escolher a tabela progressiva, pois ganhava um salário
baixo e concluí que poderia restituir todo o imposto na declaração de I.R. num
resgate futuro. Mas aí é que estava a armadilha: futuro. No futuro, a tendência
é que a pessoa progrida, consiga um emprego melhor, bem remunerado, aumente sua
renda e... passe a pagar mais imposto, não restituí-lo. É a minha
situação atual.
Ao
procurar o banco para me informar sobre esses detalhes em 2005, acabei foi
fazendo mais um plano. Desta vez um VGBL de R$ 3.000,00. A diferença é que o VGBL
não tem dedução fiscal, é mesmo como um fundo de investimento comum, a
pessoa resgata depois pagando 15% de I.R. sobre os rendimentos. Talvez meu
único caso de pequeno sucesso nesse assunto de previdência privada, foi
resgatado em 2011 com um lucro de uns R$ 1.100,00 a mais do que
haveria se deixado na caderneta de poupança.
O
segundo balde de água fria veio naturalmente com a crise de 2008 na bolsa que
afetou bastante os rendimentos dos fundos com renda variável. Depois começou a
haver a marcação a mercado dos ativos de renda fixa que compunham os fundos de
previdência, o que deixou o rendimento ainda menor. Pra se ter uma ideia, o
fundo de 100% renda fixa em 2011 rendeu 8,8%. Em 2012 = 6,5%. Em 2013 = 4,0%.
Essa
foi a gota d’água. No começo de 2014 resgatei o fundo de renda fixa, e agora em
2015 os últimos dois fundos compostos com renda variável. Fiz isso em dois
anos-calendarios diferentes na esperança de amenizar um pouco o efeito do
imposto de Renda.
No
final das contas ficou assim:
FUNDO
DE RENDA FIXA
Capital
de 3.000,00 em 11/2002
Montante
que haveria na caderneta de poupança = 6.940,00
Montante
liquido resgatado em 01/2014, descontado do I.R. = 7.572,00
Diferença
= + 632,00
FUNDO
COM 15% DE RENDA VARIAVEL
Capital
de 4.500,00 em 02/2003
Montante
que haveria na caderneta de poupança = 10.951,00
Montante
liquido resgatado em 01/2015, descontado do I.R. = 10.245,00
Diferença
= - 706,00
FUNDO
COM 30% DE RENDA VARIAVEL
Capital
de 5.350,00 em 10/2003
Montante
que haveria na caderneta de poupança = 12.100,00
Montante
liquido resgatado em 01/2015, descontado do I.R. = 10.890,00
Diferença
= - 1.210,00
Em suma, foram 12 anos de escravidão a previdência privada, grande
perda de tempo e dinheiro. A taxa de administração desses fundos é bem alta (3%
ao ano) sem falar nas malditas taxas de carregamento, isto é, o Banco sempre
ganha com isso, independente do cenário da economia. Intervenções do governo
sempre podem afetar esse tipo de investimento, como de fato aconteceu com o
I.R. e a marcação a mercado dos títulos públicos. Mas enfim, agora estou livre
disso.
* É bom fazermos
aqui uma distinção entre previdência privada que os bancos oferecem e os fundos
de pensão, ou previdência complementar, em que o empregado contribui com uma
parte e a empresa com outra. Esse último ainda constitui um bom negócio, com
moderação é claro.
É, realmente ninguém prospera com previdência privada...a
propaganda é sutil e persuasiva, mas no fim das contas é uma armadilha.
Se é pra ser escravo de alguma aplicação, meu conselho é ficar na
poupança mesmo.
***** Ferramenta útil = Calculadora Histórica da poupança da ABECIP:
http://www.abecip.org.br/imagens/conteudo/calculadorapoupanca/calculadora_da_poupanca.xls
***** Ferramenta útil = Calculadora Histórica da poupança da ABECIP:
http://www.abecip.org.br/imagens/conteudo/calculadorapoupanca/calculadora_da_poupanca.xls
Simplesmente sensacional o seu post... Vc pôs em números reais algo que sempre fui contra... Pena que meus familiares cagaram para o que eu alertei em meados dos anos 2000...
ResponderExcluirEsses dias tentei alertar eles novamente, mas eles continuam iludidos...Só que o carregamento deles é de 5%!!!
Fez muito bem de sair da escravidão...
Grande Abraço
Talvez o que mais iluda hoje as pessoas na previdência privada é a possibilidade de deduzir as contribuições feitas no imposto de renda. Mas depois paga-se imposto de renda no resgate de qualquer jeito...é um barato que sai caro.
ResponderExcluirPlano de previdência é um serviço destinado para quem tem pouca educação financeira, porque as taxas geralmente cobradas mutilam a rentabilidade.
ResponderExcluirÉ desesperador ver que as aplicações não renderam num prazo longo nem sequer o que renderiam na poupança...
E hoje alguns bancos criaram produtos de previdência ainda mais perversos: 50% da contribuição que o cliente faz vai propriamente para a acumulação de recursos. Os outros 50% vão para um pecúlio, que nada mais é do que um seguro de vida. Se a pessoa morrer, os beneficiários recebem uma bolada de indenização. Se a pessoa viver, nada. O capital investido é mutilado pela metade.
ResponderExcluirTenho até vergonha em dizer: estou nessa escravidão por meros 400 reais mensais (VGBL renda fixa FII BB IR regressivo).
ResponderExcluirFaz menos de 1 ano que fiz essa cagada e justamente por ser uma escravidão total não me vejo retirando esse dinheiro em menos de 10 anos pelo menos. Tenho agora isso como uma " poupança forcada " já que os 400 reais são automaticamente cobrados da minha conta e a liquidez é ZERO para mim em razão do prejuízo que posso levar se eu sacar isso.
Sugere o que para mim?
Abs!
Não sou especialista,mas o VGBL só tributa os rendimentos,diferentemente do PGBL que tributa o montante.Eu sairia agora,mesmo ganhando pouco ou quase nada nos de locação em RF.Nos que tiver alocação em renda variável, pode-se suspender os aportes e acompanhar...pra sair num momento de alta da bolsa.Agora se isso está tirando seu sossego,saia de uma vez e bola pra frente,pois o bom investimento é aquele que nos deixa em paz...
ExcluirAcionista25
Concordo com o Acionista25, se o investimento não o deixa em paz melhor livrar-se dele.
ResponderExcluirO VGBL só tributa o rendimento, é como um fundo de investimento com taxa de adm alta. Talvez a única coisa boa da previdência é que o valor não entra em inventario no caso de falecimento do cliente, é passado diretamente aos beneficiários, se não me engano...
o péssimo no seu caso seria cobrar 35% de ir sobre o rendimento, mas eu encararia essa perda assim mesmo.
Mas se quiser insistir assim mesmo, pelo menos não faria mais aportes, cancelaria a contribuição mensal, você pode fazer isso.
obrigado pelas opiniões.
Muito esclarecedor sua informação IB.
ExcluirValeu pelo toque Acionista25.
Estou pensando realmente em sair agora ou apenas bemmmmm a longo prazo, quando os custos serão minimizados.
Mas me tira uma última dúvida, esta essencial para eu continuar ou não na minha escravidão: a dúvida é em relação à tributação sobre os rendimentos.
A tributação realizada de forma anual ocorre apenas sobre o rendimento ANUAL daquele exercício, ou sobre tudo que render, desde o início e interminavelmente???
Explico exemplificando:
No 1° ano do VGBL, em 2014, os rendimentos foram de R$488,40.
Alíquota de 35% de IR sobre os rendimentos de 2014 = R$ 170,94.
(Atenção, minha dúvida está aqui)
No segundo ano, em 2015, os rendimentos DO ANO foram de R$ 850,84.
Situação 1: temos 35% de IR APENAS sobre o rendimento DO ANO, ou seja, sobre estes R$ 850,84 = R$ 297,79.
Situação 2: temos 35% sobre TODO o rendimento desde o início, ou seja, sobre os rendimentos do primeiro ano e do segundo, isto é, R$488,40 + R$ 850,84: Total: R$1.339,24. IR de 35% sobre o rendimento desde o início: R$468,73.
Pergunto isso porque fiz uma planilha para ver até quando vale a pena ficar nesta escravidão e concluí que no caso da tributação ser sobre os rendimentos DO ANO (o que acho correto!), após chegar na alíquota de 10% de IR é possível o VGBL se sair bem.
Entretanto, caso a tributação ocorresse sobre o rendimento dos anos anteriores, isso acarretaria "bi-tributação", isto é, "bis in idem" tributário, o que é vedado em nosso ordenamento.
É bis in idem porque se já houve cobrança de IR sobre os meus rendimentos de 2014, eu não posso ter novamente imposto sobre aqueles rendimentos novamente em outros exercícios.
Espero sua ajuda! valeu!
Abraços
PQP Besta!!!
ResponderExcluirSó agora fazendo a tarefa de casa e passando a limpo essa porcaria do VGBL acabei de crer: que merda!! Já sabia que era uma merda, mas não tanto assim!
Estou fazendo uma planilha aqui considerando as seguintes informações confrontanto VGBL e poupança:
IR: regressivo.
Taxa de adm: 1,5% a.a
Rentabilidade VGBL: 0,72% a.m (rentabilidade média considerando os últimos 5 anos - dados do próprio BB).
Poupança: 0,5% a.m.
Concluí que apesar de os anos se passarem e os custos diminuírem, a distância entre o líquido do VGBL e o líquido da poupança simplesmeste aumenta!
Saírei dessa porcaria essa semana!! Depois coloco no meu blog as informações dessa planiplha.
Abraço!
Lamento essa situação Mineiro...
ExcluirNunca fiz nada com essa tabela Regressiva, e devo dizer que pelo que estudei por aqui ela é bem complicada.
É considerado o rendimento que cada contribuição teve em função do tempo que aquela contribuição ficou aplicada.
Se você ficar dez anos contribuindo mensalmente e no final desses 10 anos quiser resgatar tudo duma vez, aquela contribuição feita em jan de 2005, suponhamos, terá os rendimentos dela tributados em 10%, porem a ultima contribuição feita agora em jan de 2015, terá o rendimento dela tributado em 35%.
Coisa de maluco, né?
Nenhum imposto é cobrado antecipadamente, somente na ocorrência de algum resgate, diferente de certos fundos de renda fixa que tem aquele negócio de "come cotas" duas vezes por ano.
Investidor, bom dia!
ResponderExcluirTenho seu blog cadastrado na minha lista de blogs favoritos e acompanho suas postagens com frequência.
Estou fazendo uma pesquisa das ações, FIIs e modalidades de renda fixa mais promissoras para os próximos 4 anos. Você poderia participar?
Se sim, basta responder este post listando as 5 ações preferidas, 5 FIIs preferidos e a modalidade de renda fixa preferida.
Grato,
Uó!
http://blogdouo.blogspot.com.br/
Obrigado pela visita Uo.
ResponderExcluir5 ações = TAEE11, ALUP11, CIEL3, ECOR3, LEVE3
5 FII = FIIP, HGLG, MXRF, RNGO, BRCR
RENDA FIXA = LCI de bancos médios, enquanto não for tributada.
Tenho previdência privada pgbl com taxa de carregamento zero e taxa de administração de 1%, 100% RF, uso 12% da renda tributada todo ano, imposto regressivo.
ResponderExcluirDivido meus investimentos 50% em RF e 50% em RV, o pgbl entre na parte de RF, me benefício do diferimento do ir e da isenção de ir sobre os rendimentos até o desgaste, sem fome cotas.
Esse fundo rende como um fundo DI com taxa de administração de 1%, sem fome cota. Esse ano completo 10 anos de investimento e vou começar a resgatar e reaplicar o mesmo dinheiro no pgbl para turbinar meu investimento, usando os 12% da renda tributável.
Não tenho queixas desse investimento, funcionou como o planejado.
Estou mostrando apenas o outro lado da moeda, não pretendo receber aposentadoria desse fundo é apenas um instrumento de acumulação com benefícios tributarios em meu planejamento.
Desgaste= resgate;
ResponderExcluirFome cotas= come cotas
Desculpa pelo corretor
Obrigado pelas colocações.
ResponderExcluirNaturalmente como você vai começar a resgatar valores seu montante de rendimentos tributáveis recebidos de Pj aumentará, o que significa que você pagará mais imposto na Declaração de I.R. Se reaplicar o dinheiro, compensará no campo "pagamentos" que é dedutível desse imposto de renda. No final das contas daria zero a zero, então espero que seu salario ou outros rendimentos tributáveis não sejam muito grandes, senão a expectativa de restituir I.R cobrado na fonte desses rendimentos vai pro espaço...
Taxa de carregamento zero é ótimo, espero que 100% do valor seja dirigido para a acumulação de recursos, sem tralhas do tipo "pecúlio", que nada mais é do que um seguro de vida embutido.
E não custa nada comparar a rentabilidade do plano com o que você teria se tivesse o dinheiro guardado na poupança...
IB, o resgate do pgbl com tributação regressiva se dá como rendimento tributado exclusivamente na fonte, não aumenta meu rendimento tributado. Por isso, não fica no 0x0.
ResponderExcluirAo reaplicar, o pagamento diminui minha base de cálculo dos rendimentos tributados, o mesmo dinheiro irá produzir o segundo diferimento.
Não há nenhum nenhum penduricalho no meu pgbl como peculio, seguro ou pensão, serve apenas para acumulação...
Abs
Tem razão! Tabela Regressiva = tributação exclusiva e definitiva na fonte, mesmo sendo PGBL...a gente vive aprendendo...
ResponderExcluirBoa explicação. Não tenho plano de previdência privado, mas até que pensava em entrar, sua postagem me ajuda na tomada de decisão.
ResponderExcluirobrigado pela visita, cearense!
ResponderExcluirTenho um plano do BB década de 90 . Ele garante IGPM + 6% ao ano , com taxa de carregamento de 9%. Acho que esse ainda vale a pena. O que vc acha?
ResponderExcluir9% de carregamento me parece um assalto, na minha opinião. O rendimento é legal, mas nunca se esqueça do I.R. Se a tabela for a progressiva, os resgates vão ser fortemente tributados.
ResponderExcluirAcho melhor um Tesouro direto com IPCA + 6,5%, que você consegue numa boa esses dias. Pegando uma corretora que cobre barato, ou que isente da taxa dela, a coisa ficaria melhor ainda.